Depois de uma reconfortante noite, com as mordomias de hotel, o dia nasce
transfigurado, com sol e uma temperatura razoável (de qualquer forma manguitos,
ou casaco, são bem-vindos).
A logística matinal exigiu organizar, em cima da hora de partida, o transporte
das nossas malas para o acampamento, pois a organização neste ponto foi dúbia, alinhámos
para aquela que seria a mais longa etapa de sempre do Transandes Challenge.
Eu arrancaria com o meu primeiro problema mecânico, não resolúvel até ao
final da prova, e não conseguia prender a manete das mudanças do desviador da
frente. Como tinha montado um 40/28 não seria grande problema, pois o 28 faria
bem a missão e entretanto arranjei também uma forma de prender a manete com o
material de excelência do Huilo Huili., um pedaço de madeira.
No dia 2 tínhamos tido já dois pequenos problemas mecânicos. O José o disco
de travão de trás empenado, e eu um raio partido, e ambos foram resolvidos
pelas assistência da Shimano. Estranho foi a corrente do José ter aparecido
fora do desviador traseiro (deve fazer parte da magia do local), mas demos por
isso a tempo e também foi resolvido pela assistência.
A partida era rápida mas neutralizada nos primeiros quilómetros (seguíamos em
pelotão atrás do carro da organização) e depois entrava num trilho relvado, também
bastante rápido, onde me senti particularmente desconfortável, pois pela primeira
vez estava de óculos e a zona tinha pouca luminosidade, o rebound da suspensão estava mal ajustado e pôr e tirar o “pauzinho”
na manete ainda não estava rotinado.
Depois dos 25 quilómetros inicias em plano veio a subida florestal ao Parque
Nacional de Villarrica, seguida por uma descida espectacular nos trilhos da
floresta araucária chilena. Terminando a etapa numa descida rápida até Palguín
seguida de 5 quilómetros a rolar até ao acampamento em Catripulli.
Durante a etapa aos problemas mecânicos iniciais veio-se juntar um travão
da frente a bloquear quase completamente a roda, e respectiva manete sem
pressão, e a corrente a saltar constantemente do carreto inferior do desviador
traseiro. Solução para o travão não tinha, já para a corrente a solução era mantê-la
sempre esticada, ou seja, estar sempre a pedalar.
Concluímos mais esta fantástica etapa sem grandes peripécias e eu desde que
entrámos em Villarrica não parava de pensar, e dizer ao José, que amanhã é que
vamos sofrer…
A chegada a um novo acampamento exigiu a logística adicional de carregar
saco para a tenda, e os sacos não estavam nem leves, nem propriamente perto das
tendas.
Depois de tomado banho e da massagem tratei de procurar imediatamente
solução para os meus problemas mecânicos. Levei a bicicleta à assistência da
Shimano que não só não me resolveu como inutilizou completamente o travão,
rasgou-me o punho e nem sequer mexeram na roldana. Vi que a solução não
passaria por ali, e que insistir na resolução não me levaria a lado nenhum,
pois não tinham nenhum travão para montar. Assim procurei outra solução que
rapidamente encontrei numa equipa de mecânica bastante mais alinhada com o
espirito destas provas e montei um novo travão, pedi a substituição da roldana
e com um pouco de sorte consegui um punho de um amigo que fizemos logo no
primeiro dia.
Agora é jantar, descansar porque amanhã vai ser a etapa mais dura do
Transandes Challenge.